Arquestrato de Siracusa (século IV a.C), siciliano de origem grega, pioneiro da gastronomia e da crítica gastronómica, não gostava do excesso de ingredientes na comida. Preferia uma cozinha sem condimentos supérfluos, sem molhos, sem gorduras. Deixou um recado,
Importuno y demasiado
es para mi el aderezo
de mucho queso, mucho aceite y mucho sebo
como si a gatos se pusiera mesa,
e a gastronomia siciliana, atenta, manteve-se fiel aos seus ensinamentos: os ingredientes justos, a simplicidade, a gordura (azeite, quase sempre) no seu ponto correcto, o protagonismo dos produtos da terra e do mar, frescos, deliciosos, deslumbrantes, no mercado e na mesa. Uma cozinha superlativa, das melhores que encontramos neste mundo vasto e sortido. Uma cozinha que foi acumulando saberes e sabores de colonizadores, conquistadores e conquistados, desde os sículos, sicanos e elímios, primeiros habitantes da ilha, até aos espanhóis, que levaram o Novo Mundo para a Sicília (a América da Antiguidade, como tão bem a definiu Lampedusa), passando por gregos, romanos, normandos e, principalmente, pelos árabes, que deixaram a marca mais forte, não só na comida, mas também no sangue, nos costumes e no estilo de vida urbano dos sicilianos. É por isso que os anúncios do fim da História étnico são sempre tão divertidos.