Sciacca, 9 de Setembro de 2012. O meu quarto tem um nome: Fernão de Magalhães. E eu aqui estou, lamentável explorador da modernidade, com cartão de crédito e mala com rodas, num quarto com ar-condicionado. No mar, que consigo ver com algum esforço desde a varanda, já não se escondem mundos obscuros. Lá ao fundo, a Tunísia. E Djerba, mais perto do que Nápoles, onde há dois anos eu molhava os pés, na mesma água tíbia e esmeraldina, ao lado dos mesmos pescadores, das mesmas casas cúbicas e ocres. Selvagens ainda há. Mas temo-los por detrás, em casa, com os seus arpões da normalidade alçados à vista de qualquer desvio, rudes assassinos do silêncio, do belo, e da boa-educação.
Carlos M. Fernandes, Sciacca, Setembro de 2012