Sobre a ideia de Homem nos poemas homéricos, Maria Helena da Rocha Pereira diz-nos que falta, aos poemas, «uma concepção unitária da personalidade (…), [a] noção de vontade, que é posterior e, ipso facto, a de livre-arbítrio, que só naquela pode originar-se.» Alan Lighman, nas suas fábulas sobre a natureza do tempo, afirma, a páginas tantas, que «num mundo com o futuro pré-estabelecido», sem livre-arbítrio, portanto, «não pode haver bem nem mal.» O que nos conduz novamente à perplexidade de Kundera: por que razão Ulisses trocou Calipso — e a imortalidade e uma vida de alegrias e aventuras — por Penélope e a ilusão da harmonia doméstica?
Carlos M. Fernandes