Roger Fenton, Esqueletos de Homem e Gorila, 1860
No princípio, o darwinismo substituiu a tautologia divina, «Eu sou Aquele que sou» (Êxodo 3:14), por outra, humana e secular: «eu sou aquele que sobrevive». Sem as ulteriores sofisticações, as teorias biológicas da variação das espécies estão reduzidas ao poder de intuição que as criou e prestam-se a todo o tipo de imposturas. As (aparentemente) mais inócuas centram-se na entronização do progresso e na crença em setas temporais que nos conduzem ao paraíso evolutivo. Aquelas que nos confundem com mísseis balísticos e escravos da epigenética, de forma a justificar a tentação liberticida, são mais sérias e perigosas. Juntas, dão-nos o retrato rigoroso da decadência da civilização contemporânea.
Carlos M. Fernandes