A Romã

Num brilhante ensaio sobre as alusões homéricas em A Morte em Veneza («A Morte em Veneza de Thomas Mann, Novela Homérica», 2008), Frederico Lourenço interpreta o sumo de romã que Aschenbach bebe enquanto observa o jovem Tadzio — o objecto do desejo (ou o símbolo da irrevocabilidade do tempo perdido) — como uma referência à romã que Perséfone comeu enquanto cativa de Hades, fraqueza que a condenaria a longas e periódicas temporadas nos infernos.  Desde então, ao fruto da romãzeira ficou associada «uma semântica simbolizadora da irreversibilidade da morte». De onde se depreende a importância de ler os clássicos. E se esse conhecimento não nos impede — a nós, humanos, seres de uma incoerência gritante — de fazer escolhas desastrosas, pelo menos dá-nos um esboço topográfico dos caminhos por onde nos metemos. Como na história do bom marinheiro. Aquele que, como todos os marinheiros, pode morrer no mar, mas que sabe onde se encontra quando chega a hora da «última e silenciosa viagem».

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