Madrid, 1 de Fevereiro de 2013

A manhã corre lentamente pela rua León. Estou sentado na mesa junto ao escaparate da Casa González, que agora me serve de montra para a doce vida do Bairro das Letras. Peço uma torrada de azeite e tomate, um sumo de laranja e um café. Do outro lado da rua há uma farmácia com azulejos antigos na fachada: um leão, uma cobra enrolada numa taça, uma cena urbana da Madrid de outros tempos. Por cima da farmácia está o hostal Castro. Por cima do Castro está o San Antonio, no qual tenho um quarto, o número 10. O quarteirão, onde durmo nestes dias, está entalado entre as ruas Lope de Veja e Cervantes. Entre Dorotea e Don Quijote. É o centro do universo castelhano.

Não há carros na rua León. Ou há poucos. Não há ruído. Só o imperceptível sussurro da cidade. As pessoas andam devagar, com os sacos das compras, com o pão, com os cães pela trela. O sol não chega a aquecer as ruas estreitas, não desperta a intensidade das cores do bairro, escondidas nestes dias pelo manto marron do inclemente Inverno madrileno. Assim é o Bairro das Letras, sul e norte, sul domado pelo norte, cor oculta pela melancolia continental. Peço o segundo café. Podia ficar aqui a assistir eternamente a esta ociosa Saída da Fábrica. Como naquela vez no Chelsea nova-iorquino, no Starbucks da esquina nordeste da quinze com a nona. A ver o mundo passar.

059bCarlos M. Fernandes, Madrid, 2013

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