Catânia. Tomo um café no cruzamento da via Pacini com a Gemmelaro, ao lado da praça C. Alberto e do seu mercado euro-africano. Vende-se carne e peixe a céu aberto.
(O silêncio no jardim do mosteiro dos beneditinos.)
(O silêncio no teatro greco-romano.)
Anoitece. Sento-me nas mesas vermelhas, de plástico, do Chiosco della Pescheria, refúgio de pássaros nocturnos, rulote-anã embutida nos arcos da ponte do comboio, no meio do lendário Mercato de la Pescheria. Bebo uma Moretti. A música é insuportável. No mercado agora adormecido há uma banca, resistente, onde ainda se vendem mexilhões (uma balança, uma pilha de conchas e um homem paciente). Na mesa em frente, um negro conversa com um branco de camisola de alças e sandálias. Ao meu lado, dois músicos de rua contam o dinheiro arrecadado na última ronda pelos restaurantes da pescheria. E eu, e mais ninguém. Cheira a fumo de cigarro barato. E a peixe.
Carlos M. Fernandes, Catânia, 30 de Agosto de 2012