Diários da Sicília (1)

Chega como um vulto disfarçado pela bruma. Aproximamo-nos. O avião contorna-o pela direita. Aquilo que à distância era apenas uma sugestão oferece-se agora em toda a sua plenitude: uma massa de terra cónica, ameaçadora, escurecida pela sombra dos seus próprios fumos. Está ali para nos lembrar que por baixo de uma costa finamente recortada, banhada por um mar de esmeralda que nos recebe com a graciosidade das Eólias, se esconde uma força implacável. Num dos padrinhos de Coppola alguém pergunta: como é que uma terra tão bela pode ser tão violenta? Mas não é altura de pensar em tragédias. Preferimos vê-lo como Camilo Castelo Branco o via, como fonte de metáforas românticas: Aquelas palavras vãs, humildes, saíam de conflagrações recônditas, vulcânicas, como singelas boninas que o convulsionado Etna atira ao azul.

Carlos M. Fernandes, Catãnia, 29 de Agosto de 2012

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