— Parece África, ¿verdad? — dice leyéndome el pensamiento.
Juan Goytisolo, Campos de Níjar
Estive ali durante dois dias, em Março do ano passado. Para chegar a Garrucha, atravessei o deserto de Tabernas, onde há quarenta anos trabalharam Clint Eastwood e Sergio Leone para nos deixar uma dos mais belos capítulos da História do Cinema. Mais à frente, vi as espantosas casas de Sorbas penduradas sobre o despenhadeiro. No regresso da vila que dá nome às melhores gambas do mundo, Garrucha, escolhi o caminho marítimo até Carboneras. Antes de chegar à linha de costa selvagem que percorre o Parque Natural do Cabo de Gata, as urbanizações estivais causaram-me uma forte impressão de africanidade, levando-me por momentos até às recordações de Djerba, que ali continuava, seguramente, impávida e serena do outro lado do Mediterrâneo, sem saber que está irmanada com este pedaço de terra andaluza. Sim, Almeria é uma ilha africana na Europa.
Carlos M. Fernandes, Almería (Tabernas), 2011
Depois li Campos de Níjar de Juan Goytisolo e desejei voltar, desejei muito voltar, entrar na província de Almería pela N340, passando por Vera, Cuevas e Los Gallardos, baixar até Níjar, e logo a seguir banhar-me nas águas, ora calmas, ora rizadas como um campo de escarolas, do Cabo de Gata. Voltar, e procurar as aldeias esquecidas pelo tempo, perdidas no pó e na falsa insularidade. Voltar, sozinho, porque só a solidão nos permite entender o caminho sem a distração das bermas. Voltar, com tempo, com todo o tempo do mundo. Volto amanhã. Sem tempo. Sem a doce solidão. Mas volto.
Carlos M. Fernandes, Julho de 2012